Marcello Veríssimo
Um novo respiro também para as áreas florestais degradadas pelas fortes chuvas do início do ano na costa sul de São Sebastião. A região passará por restauração ecológica a partir de uma técnica inovadora desenvolvida por pesquisadores brasileiros.
O Instituto de Conservação Costeira (ICC), em parceria com a Atlântica Consultoria Ambiental, e a Ambipar Group, multinacional brasileira líder em gestão ambiental, pretendem reflorestar cerca de 208 hectares de área, o equivalente a 200 campos de futebol. Para isso, o ICC busca novos parceiros para financiar a tecnologia que será utilizada no processo de restauro.
De acordo com o ICC, como muitas das áreas atingidas pelas tempestades possuem características íngremes da Serra do Mar e são inacessíveis por meio terrestre, serão usados drones especiais para lançar biocápsulas contendo sementes de árvores nativas. “As biocápsulas são feitas a partir de sobras de colágeno das indústrias farmacêuticas, mais precisamente, as cápsulas que deixaram de ser usadas na produção de medicamentos por conta de pequenos defeitos e/ou validade, as quais são orgânicas, naturais e biodegradáveis, sem nenhum tipo de contaminação”, explicou em nota o ICC. “Depois de processadas nos laboratórios da Ambipar, elas recebem sementes nativas e são dispersadas por meio de drones de alta capacidade, também desenvolvidos pela companhia e parceiros”, completou.
Gabriel Estevam, head de Inovação na Ambipar, disse que, para o projeto de reflorestamento em São Sebastião, a técnica utilizada das biocápsulas, além do revolvimento de sementes com polímero natural e carbono orgânico, será adaptada para obter maior eficiência no processo, principalmente em sementes consideradas de maior tamanho. “O colágeno será derretido e aplicado carbono orgânico diretamente nas sementes, fixando o colágeno com o Ecosolo® na semente para promover nutrientes aos microrganismos e biota do solo”.
Com um drone semeador, desenvolvido para essa finalidade, é possível fazer o lançamento aéreo de 20 mil biocápsulas, cobrindo cerca de um hectare por voo.
Para Fernanda Carbonelli, presidente do instituto, é de extrema importância que todos unam forças nesse momento. “Nosso maior objetivo é recuperar essas áreas que foram devastadas pelas fortes chuvas, trazendo de volta o bioma natural, gerando impactos socioambientais positivos. A ação irá beneficiar toda a população e também contribuir com as questões climáticas da região. Contudo, para isso precisamos de apoio e financiamento para tirar nossas ações do papel. Nesse momento, é necessário unir forças para um bem maior”, afirma.
Para restaurar as áreas degradadas em São Sebastião, serão utilizadas mais de 20 espécies de plantas escolhidas a partir da Lista de Espécies Indicadas para Restauração Ecológica para as regiões do Estado de São Paulo, sendo elas apenas nativas do bioma Mata Atlântica e da Floresta Ombrófila Densa. “Essas árvores são chamadas de pioneiras, já que são as primeiras a conseguir colonizar uma área, iniciando assim a primeira etapa de sucessão ecológica. Também é possível selecionar espécies de recobrimento rápido, que possuem crescimento ágil e irão auxiliar a reflorestar as áreas afetadas mais rapidamente”, disse Fernanda.
Dois anos – O projeto tem a duração prevista de dois anos, sendo o primeiro para realização do plantio e o segundo ano para monitoramento. O ICC e a Ambipar informaram que os primeiros resultados já poderão ser vistos a partir de dois a três meses após o lançamento das biocápsulas, mas este prazo também dependerá das condições climáticas da região nos momentos de operação. “Caso ocorram fortes chuvas que eventualmente levem as sementes para longe do local de reflorestamento, será necessário realizar os períodos e reaplicar, podendo combinar com outras técnicas complementares”, disse o ICC.
Veja o Vídeo do projeto: