Marcello Veríssimo
Eles assistem a história da cidade passar diante dos próprios olhos. Quem trabalha na rua enfrenta desafios diários, que se renovam e dificultam a conquista do pão de cada dia.
A pandemia da Covid-19 foi o maior desafio que os trabalhadores informais tiveram que superar para seguir com suas vidas. Sem registro na carteira, eles não têm direito a FGTS, licença maternidade ou qualquer auxílio do governo em caso de desemprego. Mas isso não é o suficiente para desanimar.
De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no último trimestre de 2019, os trabalhadores informais brasileiros representam 41% dos postos de trabalho no país. Já a Pesquisa Mensal de Emprego do IBGE, realizada nas seis maiores regiões metropolitanas do Brasil, mostra que metade da população ocupada nessas regiões encontra-se na informalidade, quadro que se repete no estado e cidade de São Paulo.
Em 2021, o total de pessoas ocupadas em São Paulo era estimado em 21,9 milhões, com expansão nos serviços domésticos (9,9%), construção (8,8%), indústria de transformação (7,8%), comércio (7%) e serviços (5,3%). Apenas na agricultura ocorreu redução (-7,8%).
No Litoral Norte não é diferente. Em São Sebastião, por exemplo, o setor de serviços é o que mais movimenta a economia e oferece vagas de trabalho, sejam elas próprias, autônomas ou por meio de empresas. No cruzamento das ruas Duque de Caxias com a Praça Major João Fernandes, um dos mais movimentados na região central do município, o comerciante Carlos Rodolfo, conhecido por Kaká, 51, está prestes a completar 22 anos administrando uma cafeteria no local. “Fechei por um mês. A pandemia foi como um sonho ruim, daqueles que não queremos lembrar”, disse Kaká, que relembra os dias difíceis e destaca que o sucesso do seu produto fez a diferença no período. “Meu café sempre fez sucesso, tenho mais de 22 anos nesse ramo. Eu não estudei para ser comerciante, eu aprendi ser comerciante”.
Carlos conta que, ao decidir mudar para São Sebastião, comprou a loja ainda em São José dos Campos. “Era um café 24 horas não fechava as portas”, “Vi gente abrir e fechar, lojas importantes fecharam mas em 22 anos desde que cheguei aqui é do mesmo jeito. Agora que as pessoas estão sentindo os efeitos da pandemia no bolso”.
O comerciante se refere aos aumentos constantes, inflação alta, reajustes no aluguel, ao fim do auxílio emergencial, desemprego em massa, entre outros problemas. “Em 22 anos você faz os seus clientes, aliás clientes não, amigos. Na pandemia, quando eu abri todos vieram, isso me ajudou muito”, comenta Kaká, se referindo ao apoio dos amigos. Vamos tocar o barco, vida que segue. Não podemos esperar nada do Poder Público, não podemos desistir”.
Domis do milho – Por onde ele passa cativa e conquista clientes. Esse é Domingo José Lima dos Santos, o Domis Milho, 58, que também aprendeu a dar mais valor ao seu trabalho durante a pandemia e aprimorar sua fé em Deus.
“A pandemia foi muito difícil, fiquei quatro meses sem trabalhar. Imagina acordar e dormir dentro de casa sem poder sair para nada, eu trabalho na rua, vejo o povo todo dia, meu sustento vem daí. E todas as economias acabaram indo, quase me zera”.
Mas não foi o que aconteceu. “Deus é maior, confiei nele e venci. Não peguei Covid, deu tudo certo”, ele garante. “Todo dia eu passo e vejo as pessoas, mais do que clientes eu também fiz grandes amigos nesses anos. Vendo em muitos lugares, conheço meus clientes por nome e sirvo um bom produto para poder servir sempre”.