Marcello Veríssimo
Um local de amor e acolhimento para quem enfrenta dificuldades na vida. A sede do Centro Comunitário Santa Maria Eufrásia – Fraternidade Povo da Rua, em São Sebastião, recebe centenas de moradores em situação de vulnerabilidade social, ou seja, sem residência ou trabalho fixos que, acima de tudo, buscam aceitação, respeito e igualdade social.
Instalado na Rua Amazonas, número 44, região central do município, é cuidado por uma equipe de aproximadamente 20 voluntários, que recebem essas pessoas sempre com atenção, ajudam na organização do espaço, preparam as refeições e ajudam a servir. Tudo é muito organizado. Em média, são servidas 70 refeições por dia no salão, que é bem arejado e repleto de mesas para fazer refeições.
Para ter uma ideia em nove dias durante o mês de maio foram servidas 692 refeições. Todo esse verdadeiro banquete feito pelos voluntários recebe o apoio e doações, as quais a fraternidade agradece ao Stralo Frutas e Legumes, além do Restaurante Brasileira Gourmet, do espaço Casa Brasileira. “Colocamos eles sentados à mesa, nós os servimos, eles comem em pratos com talheres. Não oferecemos só a comida, mas sim o acolhimento e resgate da dignidade”, explica Marianita Bueno, que integra a diretoria da Fraternidade Povo da Rua como vice presidente.
Com a proximidade do inverno, Marianita diz que também serão doadas mantas térmicas, que possuem mais durabilidade que os cobertores convencionais. “Nós temos muita dificuldade, principalmente neste período de frio, agasalhos, calças masculinas. Recebemos doações todas segundas e quartas ou se a pessoa tiver alguma dificuldade podemos até ir retirar”.
Atualmente, o atendimento acontece duas vezes por semana, toda segunda e quarta, sempre a partir das 15 horas, mas existe o objetivo de ampliar para mais dois dias na semana. De acordo com Marianita Bueno, o objetivo é que com os novos dias de atendimento seja possível elaborar um mapa sobre preferências de cada um, entre outros traços de personalidade por meio de atividades culturais e de integração social para afasta-los da rua.
Geralmente, os atendidos começam chegar por volta das 16h30, aos poucos o local vai ficando cheio. São pessoas que, por trás dos seus rostos marcados por cicatrizes de mazelas da vida, possuem histórias como qualquer ser humano, mas que não tiveram escolha. “Muitos tinham carteira assinada, a maioria tem casa, endereço, família, RG, eles não estão na rua por vontade própria”, diz Marianita.
A Fraternidade Povo da Rua também realiza entrega de roupas para esta população, que são doadas à entidade, originada desde 1985, durante a Campanha da Fraternidade pelas Irmãs do Bom Pastor, na paróquia local. A irmã Maria Geralda Resende, 82 anos, diz satisfeita que deu sua vida realizado o trabalho, uma obra de Deus. “Faço parte disto! Venho cooperando com as necessidades de cada dia. O projeto é de Jesus Cristo, ele que nos colocou aqui. Sou das irmãs do Bom Pastor e ele vai atrás das ovelhas perdidas”, diz a irmã Geralda, que nasceu em Resende Costa, Minas Gerais. “A minha vida inteira eu passei aqui, com esse povo que ninguém quer. Mas se Jesus Cristo estivesse aqui, estava com a gente. Ele veio para buscar o que estava perdido”, destaca Irmã Geralda, que antes do jantar conduz um momento de oração com o povo da rua.
Compaixão
A jornalista de São Sebastião, Raquel Salgado, colabora como voluntária da equipe e também 2ª secretária da fraternidade. Ela diz que o trabalho da Fraternidade Povo da Rua corrobora para uma reflexão social extremamente necessária nos dias atuais. “Precisamos que essa sociedade coloque compaixão em seu coração. Cada dia nós temos um número maior de pessoas passando fome e morando na rua”, diz ela. “Que se possa sensibilizar quem tem o poder de decisão para construir abrigos, como vamos ver este inverno, dormir sossegados sabendo que tem tantos irmãos dormindo na rua. Precisamos de mais voluntários!”.
Um destes exemplos de compaixão e empatia, o professor Amadeu Matos, 56 anos, que nasceu na Bahia, no município de Ribeira do Pombal, foi pela primeira vez dedicar um pouco do seu tempo para alegrar o início do jantar que é servido pela fraternidade. Ele é músico desde a infância, filho de sanfoneiro, diz que sempre foi movido pela arte. “Recebi o convite da Marianita, foi muito bom para a minha alma”, diz ele, que alegrou os atendidos cantando clássicos da música brasileira nordestina, entre elas “A Vida do Viajante” de Luís Gonzaga.
Os jovens amigos Pedro, Cristian e Fernando, que são artistas de rua e trabalham fazendo malabares nos sinais chegaram ontem ao município e logo foram ao Centro Comunitário. “A comida é bem gostosa, bem temporada, a comida é em gostosa parece comida de mãe”, eles dizem.