Marcello Veríssimo
Enquanto os velejadores da 49ª Semana Internacional de Vela estão no mar, o público se divertindo, existem aqueles que estão trabalhando para proporcionar uma boa estadia em Ilhabela. Na noite de sábado (23), a Rua do Meio, na Vila, concentrou todo o burburinho da SVI com o Race Village, bares, restaurantes e baladas lotados, com fila na porta.
Com quase 36 mil habitantes, durante a Semana Internacional de Vela o arquipélago vive dias de glória com turistas de todo o mundo, coroando a ilha como um dos destinos de praia mais exclusivos do país. Mas, diferentemente do que muita gente pensa, o chamado abismo social, que separa as camadas da sociedade, ganha contornos específicos que passam longe da segregação com todos convivendo bem em seus papéis
Dados do IPRS (Índice Paulista de Responsabilidade Social) mostram que Ilhabela está entre as cidades mais ricas da Região Metropolitana do Vale do Paraíba.
O IPRS é composto por três dimensões – riqueza, escolaridade e longevidade. O objetivo do levantamento é caracterizar os municípios paulistas no que se refere ao desenvolvimento humano, por meio desses três indicadores, que são mais sensíveis a variações de curto prazo.
Para se ter uma ideia, de janeiro a maio deste foram registradas 1,7 mil admissões formais, de acordo com o Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) em setores ligados ao turismo, que incluem hotéis, restaurantes e outros serviços.
Uma dessas trabalhadoras é Luana Oliveira, 36, que trabalha em um restaurante movimentado na Rua do Meio. Ela conquista a freguesia com simpatia, profissionalismo e seriedade, mas sabe que é privilegiada por trabalhar e, ao mesmo tempo de divertir. “A vida já está tão difícil. O público precisa disso de alguém que acolha, traga um sorriso, receba bem. Trabalho me divertindo, a gente conversa, conhece gente nova”, diz Luana, que é uma espécie de hostess da casa.
A vendedora, Maria Steffanie, é outra apaixonada pela Semana de Vela e diz que, apesar de cansativo e com horário estendido, vai trabalhar feliz durante esses dias que ela chama de uma “mini temporada” de verão. “É muito bom esticar esse horário, mesmo sendo cansativo depois a gente vai descansar, mas o lucro compensa. Tem muito turista estrangeiro, que gasta em dólar, vivemos disso, já estou acostumada, mesmo com esses dias lindos de sol é recompensador”, diz ela, que faz parte de uma equipe de quatro vendedoras.
Seja nos estabelecimentos comerciais ou na rua, a presença dos turistas endinheirados movimenta os trabalhadores. A artista de rua, Laura Salvador, de Ilhabela, diz que aproveita esse período para trabalhar e ser feliz. “Adoro trabalhar enquanto os outros se divertem, adoro fazer as pessoas se divertirem. Sou artista de rua, mas em casa sou artista também, gosto de fazer as pessoas felizes. Com meu trabalho não faço apenas tranças, eu transformo mentes”.
Se de um lado os trabalhadores se esforçam para proporcionar um bom serviço do outro, para os turistas, vale a experiência de estar em Ilhabela. A designer paulistana, Patrícia Barbieri, diz que a cidade está repleta de gente bonita, interessante, o serviço é bom, mas para ela falta um “pouco de agilidade”. “Nada se compara com o serviço de São Paulo, a agilidade da capital. Por estar muito cheio, tem uma fila, a galera aqui se perde muito, viu uma mesa senta para não perder”.
O engenheiro de produção, Henrique Dias, pela primeira vez no arquipélago diz que não tem do que reclamar. “É maravilhoso, o custo de vida é alto, mas o preço vale a qualidade dos serviços”, diz ele, que é de Minas Gerais.