Marcello Veríssimo
A realização de um sonho. Essa talvez seja a melhor forma para definir a satisfação e o propósito do velejador de São Sebastião, Ubiratan Matos, 43, ao falar sobre seu novo projeto. A primeira adega flutuante de envelhecimento de rum e cachaça do Brasil, a bordo do Dália, um veleiro de 1903, que foi inspirado nas escunas de pesca Nokimus e Lafayette, construídas no Porto de Gloucester, em Massachusetts, no Estados Unidos, entre o final do século XVIII e começo do século XIX. “Eram usadas exclusivamente como barcos de pesca pelo seu traçado rápido, veloz e pela capacidade de velas que podiam sustentar”, explica Ubiratan, o Bira, que recebeu a reportagem do JDL com exclusividade nesta quinta-feira-feira (28), para contar sua relação de amor com o veleiro Dália, embarcação que pertence a ele e fez com que o atleta optasse por não participar das regatas 49ª SVI para se dedicar ao seu novo negócio. “O barco levava entre 12 e 15 tripulantes, além de um aprendiz de 10 anos em suas aventuras pelo mundo, incluindo o mar de Bering, no estreito de Bering, quase no Polo Norte”, completa Matos, que adquiriu o barco no início de 2019 e sabia que viveria uma história de amor, ao lado da esposa Eliana Sales, que é sua primeira imediata.
A bordo do Dália, ao lado do sócio, o empresário do ramo de destilados,Joseph Van Sebroeck, natural de Ilhabela, que se divide entre o arquipélago e São Paulo, a dupla chegou a Semana de Vela para abrilhantar ainda mais a competição, com o veleiro ancorado no Píer da Vila. O Dália é um veleiro de época, todo em madeira, sem tecnologia e com navegação astronômica para resgatar a navegação dos antepassados. “O objetivo era dar uma volta ao mundo, mas aí veio a pandemia [da Covid-19], paramos a reforma, e os planos mudaram”, conta Bira, em uma espécie de linha do tempo até o Dália chegar em sua atual versão.
Ubiratan sempre correu atrás dos seus sonhos. Caiçara nativo, como ele mesmo diz, boneteiro, de família humilde, começou em um projeto de vela da Prefeitura de São Sebastião e hoje é o campeão sul americano da Classe Star, ao lado de Robert Scheidt, entre outros títulos importantes no esporte.
E com o veleiro Dália, não será diferente. Nele, Bira e Joseph lançaram a 1ª adega flutuante de rum do Brasil, com um produto excelente. O “Rum Cavendish”, foi medalha de prata em um campeonato mundial de destilados, realizado em Bruxelas, na Bélgica, no começo deste ano. “É o segundo melhor rum do mundo de 2022, entre mais de 4 mil alambiques de diversos países. O resultado saiu em março deste ano”, explica Matos.
O porão do Dália concentra barris de carvalho americano envelhecendo o rum. O aroma do rum toma conta do local. Bira explica que o processo consiste em algumas etapas. “Esse rum foi envelhecido em terra por três anos, agora vai passar por um processo de envelhecimento marítimo. O grande segredo, além de resgatar a cultura pirata, da história, e poder mostrar um barco de madeira é utilizar tudo o que o ambiente marítimo possui”.
O velejador se refere ao fato dos barris estarem a bordo, o balanço do mar conserva uma mistura constante da bebida dentro do barril. Outro fator positivo, segundo ele, é a salinidade e a umidade do mar que agregam valor de qualidade ao sabor da bebida, assim como a alta temperatura. “No nosso verão, as temperaturas podem chegar a 30, 32 graus e aqui no porão da Dália pode bater os 50, isso adiciona muito ao sabor”, explica Bira.
O Sócio – Bira e Joseph formam uma boa engrenagem para os negócios. Enquanto um conhece todos os segredos dos mares, o outro é um excelente negociador. Terceira geração de uma família tradicional na produção dos destilados, é centrado, focado e hábil para os negócios. Fisioterapeuta por formação, ele diz que agora vive uma “transição de carreira”, mas espera que ainda possa viver da produção da cachaça. “A produção começou com meu avô no final da década de 50”, ele diz. O alambique “Dona Filó” ,da família Sebroeck, fica em Natividade da Serra, no Vale do Paraíba.
A vocação para os negócios realmente está no sangue da família. O irmão de Joseph, Aharon Van Sebroeck, é mestre alambiqueiro. Ele é responsável por todo o processo produtivo desde a fermentação da cachaça até o envase. “Eu aprendi a fazer muita coisa com meu pai, assim como meu irmão também. Sempre gostei de estar em contato com a natureza”, diz Aharon, se referindo a sua relação com o mar e ao fato de estar trabalhando com o que sabe fazer mas em um ambiente totalmente novo. “É um desafio, mas esperamos bons resultados, obter um produto de fino trato”.
Durante o lançamento da Semana de Vela, a equipe está pronta para receber os visitantes com um tour pelo veleiro, promover a degustação e vendas. Para saber mais sobre o veleiro Dália, o Rum Cavendish Prata e a cachaça Dona Filó, basta seguir o perfil no Instagram @veleirodalia e o @cavendish_rum.