Marcello Veríssimo

O IPq (Instituto de Psiquiatria) do Hospital das Clínicas da FMUSP (Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo) divulgou os resultados de um estudo sobre os hábitos sexuais do brasil. De acordo com o levantamento, que teve a participação de 3.650 brasileiros com idade média de 45 anos, no país as pessoas começam a consumir pornografia cedo, ainda na pré-adolescencia, por volta dos 12 anos. A primeira transa acontece geralmente aos 18.

O levantamento brasileiro integra o trabalho científico “International Sex Survey”, Pesquisa Internacional Sobre Sexo, realizada em 45 países por meio da internet, sendo respondida por 82 mil pessoas ao redor do planeta.

A pesquisa descobriu que em um relacionamento sério, os brasileiros transam entre 2 e 3 vezes no mês, 2 a 3 vezes por semana no último ano, por exemplo. Entre os entrevistados, 44% estão satisfeitos com o parceiro ou a parceira, 81% já fez sexo com um parceiro ou parceira casual, ou seja, alguém com quem não tinham um relacionamento sério.

A pornografia é um hábito dos brasileiros. De acordo com a pesquisa, no contingente que participou as pessoas responderam que viram filmes do gênero de 2 a 3 vezes por semana nos últimos 12 meses. “Os dados desmistificam um pouco a ideia do brasileiro hipersexualizado, já que a maioria está satisfeita com a própria vida sexual e com o parceiro. Os dados também refletem um hábito que é tendência nos relacionamentos: a frequência sexual é maior no início e aos poucos vai diminuindo”, explica o psiquiatra Marco Scanavino, que é professor do IPq, responsável pela pesquisa no país.

Ele disse que a amostra do estudo, embora representativa em termos de gênero e orientação sexual, não pode ser generalizada para toda a sociedade brasileira. “Ou seja, os dados são um recorte que oferece alguns insights importantes sobre comportamentos sexuais de muitos brasileiros, mas não todos”.

A pesquisa também analisou a sexualidade do brasileiro e, no geral, constatou que se enquadra como sexualidade fluida. De acordo com a pesquisa, 66% dizem ter orientação heterossexual, 13% se declararam gays ou lésbicas e 8,6% bissexuais.

No entanto, a pesquisa identificou que 34% dos entrevistados não se identificaram como “estritamente heterossexuais”. Para Marco, isso mostra o reflexo da modernidade, que a sexualidade é vista atualmente como algo mais fluido, especialmente nas sociedades ocidentais, e como há maior liberdade para assumir diferentes comportamentos, identidades e orientação sexual”.

Sexo no Litoral 

A ex-presidente do Fórum LGBT do Litoral Norte, Thifany Félix, concorda que a sexualidade moderna é mais fluida e que o recorte da pesquisa é interessante, pois mostra que o brasileiro, mesmo ainda com restrições, está conseguindo deixar de ser moralista. “A sexualidade é muito ampla, a orientação sexual também. Não dá para sermos colocados em uma caixinha”, ela disse.

O aposentado, Eduardo Garcia, 54, de Caraguatatuba, disse que só aceitaria falar com a reportagem do JDL sob nome fictício. Ele disse que, teve de quebrar paradigmas internos para conquistar aceitação sobre sua orientação sexual, mas mesmo assim sendo independente financeiramente, não sendo obrigado a dar satisfação para ninguém sobre sua vida, prefere não levantar bandeiras de nada, incluindo sua vida sexual. “A sociedade é cruel, o preconceito existe e principalmente para os gays velhos, ninguém precisa saber o que o outro faz entre quatro paredes, o preconceito existe, apesar de termos avançado muito com as novas gerações”.

A sexóloga de Caraguatatuba, Lilian de Paula, disse que a pesquisa é coerente. “Faz todo sentido essa amostragem. As informações coletadas chegaram a estas conclusões: da forma de consumo, a questão da sexualidade estar mais fluída, das pessoas estarem mais livres para tomar decisões e ser aquilo que elas tem vontade, isso é fato, isso é verídico”, disse Lilian, que também é psicóloga. “Só vejo com ressalva a questão da pornografia que para muitas pessoas depois passa a ser uma questão de frustração, por não conseguir atingi-la. A questão da educação sexual partindo dali com certeza é fadada a um relacionamento muito frustrado por não ser real, por isso é importante o fato de ser ter uma educação sexual real, com o que é realidade”, ela completa.

A sexóloga ainda faz um alerta, principalmente aos adolescentes, que usando levam a idealização da pornografia para a vida real e a conta não fecha. “Pois o rapaz acha que a mulher vai fazer o que ele vê nesse tipo de conteúdo e a menina que acha que ele é um príncipe encantado, que resulta em muita frustração, e isso fica muito claro quando os problemas chegam ao consultório”.

O treinador de vida, Giobert Mendes Gonçalves Junior, de São Sebastião, disse que a sexualidade sempre existiu e que a maior parte das pessoas faz um alarde por conta de uma condição existencial da espécie humana. “Se a gente olhar para trás, na Idade Média, outras culturas, outros povos, a sexualidade sempre existiu. Apesar de a igreja pregar a virgindade, sabemos que não é nada assim”.

Para o treinador de vida, atualmente a sexualidade está ainda mais exposta, com as pessoas perdendo os pudores e isso é um avanço sem precedentes. “Tudo está mais exibicionista, mas apenas tirou o véu do que já existia antes. Mas muitas vezes eu vejo as pessoas não conseguindo lidar com a própria sexualidade, que começa cada vez mais cedo”.

O tradutor Hudson Cabral, que já morou na Itália e atualmente mora em São Vicente, na Baixada Santista, também considerou a pesquisa pertinente. Ele disse que os dados mostram o que, na prática, é difícil de se classificar. “Já tive experiências casuais com homens que se declaram “heterossexuais”, talvez nós sejamos influenciados por fases, alguns têm uma predisposição à alguma orientação, alguns nunca vão descobrir todas as possibilidades simplesmente porque não experimentaram”.

By srneto

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