Festa do Glitter: Estudo da USP revela que produto contamina ecossistema marinho

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Marcello Veríssimo

O clima de sol, a proximidade do fim de ano, já acendeu o farol de muita gente. O Carnaval 2024 está chegando e, quem vive a folia, se prepara para a maior festa popular do país e isso inclui, claro, muito glitter pelo corpo.

Mas um estudo da USP (Universidade de São Paulo) revela que esse adereço aparentemente inofensivo pode comprometer o crescimento de organismos vivos que constituem a base de ecossistemas aquáticos. As partículas de glitter afetam, por exemplo, as cianobactérias que possuem papel fundamental para os ciclos biogeoquímicos da água e do solo, além da alimentação de outros organismos.

De acordo com os pesquisadores, por não ser biodegradável, o glitter entra em contato com os organismos aquáticos afetando tudo em volta. Essa exposição pode acontecer de diferentes formas, entre elas o contato com subprodutos tóxicos ou danos e ferimentos causados pelas bordas afiadas das partículas.

Os pesquisadores do Cena-USP (Centro de Energia Nuclear na Agricultura) da USP com apoio da FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), avaliaram os efeitos de cinco partículas de purpurina não biodegradável em duas linhagens de cianobactérias. Eles são responsáveis pela formação de florações em corpos d’água.

Durante 21 dias, a taxa de crescimento celular das cianobactérias foi medida a cada três dias por meio de espectrofotometria (medição de densidade óptica).

O autor do estudo, pesquisador Maurício Júnior Machado, disse que os especialistas conseguiram observar que as doses crescentes de glitter aumentam o biovolume das células de cianobactérias. “Fazendo com que passem por processos de estresse que comprometem até mesmo a fotossíntese, o que destaca a toxicidade pouco explorada do glitter em microrganismos”, disse ele. “Vale lembrar que, se algo afeta as cianobactérias diretamente, então indiretamente afetará outros organismos do mesmo ambiente”, alerta o pesquisador.

Resultados

O resultado da pesquisa mostra que as concentrações ambientais de glitter semelhantes à maior dosagem testada (>200 mg de glitter por litro de água) podem influenciar negativamente organismos suscetíveis dos ecossistemas aquáticos.

De acordo com os especialistas, os efeitos negativos observados em concentrações de purpurina acima de 137,5 mg por litro de água afeta a densidade celular sem recuperação.

Os pesquisadores afirmam que o estudo oferece embasamento para que o poder público e a população repensem as comemorações da festa mais popular do país e estimulem consumo mais consciente de itens derivados de plástico.
“O glitter foi criado para ser usado em festividades e, nesses momentos, as pessoas acabam não pensando na problemática criada para o meio ambiente”, disse Marli de Fátima Fiore, pesquisadora do Cena-USP e coordenadora do trabalho.

“Mas é preciso lembrar que esses microplásticos comprometem e contaminam ecossistemas tanto marinhos quanto de água doce, que são extremamente importantes para nossa vida, e pensar em campanhas para que eles sejam evitados ao máximo”, alerta Fiorese.

Por dentro do Glitter

Os especialistas pretendem realizar agora os testes em mais linhagens de cianobactérias, além de analisar o glitter biodegradável para verificar se esse material realmente não gera problemas para os organismos como, por exemplo, prejuízos decorrentes de possíveis pigmentos com metais na composição.

O glitter, também conhecido como purpurina, são partículas de plástico com menos de 5 milímetros. De acordo com os especialistas, seu tamanho reduzido impede que sejam filtradas pela rede de tratamento de esgoto.

Ou seja, quando os foliões tomam banho, por exemplo, elas escorrem diretamente pelo ralo e se espalham por praias, sedimentos, florestas, lagos e oceanos. Os especialistas dizem que as estimativas dos últimos anos dão conta de que mais de 8 milhões de toneladas do produto foram lançadas no oceano.

Para a jovem Caroline Mota, 26, que aproveita os finais de semana na região, o glitter faz toda a diferença na fantasia. “Parece tão inofensivo, as autoridades precisam fazer campanhas informativas para incentivar a substituição do Glitter, que é um charme a mais na produção de carnaval”.

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