Marcello Veríssimo
O tratamento com óleo à base de Cannabis já é uma realidade no Brasil e está se tornando cada vez mais acessível em diferentes partes do país, incluindo o Litoral Paulista. A reportagem do JDL viajou até São Paulo, a convite do Ibracan (Instituto do Brasil de Apoio a Pacientes da Cannabis Terapêutica) para conhecer mais sobre o medicamento, a cultura canábica e participar de um evento em homenagem ao padre Ticão, na Assembleia Legislativa do Estado, nesta terça-feira (2).
Convicções ideológicas à parte, o trabalho do instituto nasceu da dedicação e do reconhecido potencial da cannabis como terapia natural para diversas doenças. Atualmente, o Ibracan atende cerca de mil pacientes de forma direta e mais de 100 pessoas de maneira gratuita, o que, segundo a entidade, é uma forma de contribuição social.
De acordo com a Abracam (Associação Brasileira de Cannabis Medicinal) o óleo cannabidiol ajuda em quadros graves de distúrbios do sono, além de também ajudar no uso de medicações alopáticas para tratamentos de quadros de saúde mental, como ansiedade generalizada, pânico, depressão, transtorno de estresse pós-traumático. O óleo também é indicado para pacientes oncológicos, imunossuprimidos, idosos, com doenças degenerativas,e doenças crônicas.
O tratamento com o óleo é indicado somente com receita médica. De acordo com as entidades, ligadas à nova cultura canábica não existem evidências científicas comprovadas de que o produto cause dependência física. “Pelo contrário, nosso trabalho é fazer com que o tratamento com o canabidiol seja acessível a todos”, disse Carolina Brito, do Ibracan.
Ela explica que a diferença entre o uso recreativo da cannabis e o medicinal é que o óleo é isolado das outras substâncias, no caso quando a maconha é fumada, que pode causar dependência. “O canabidiol se liga a um sistema de receptores no organismo humano chamado sistema endocanabinoide, que possui receptores com afinidade com substâncias da Cannabis, garantindo a eficácia do uso medicinal”.
Ao ligar-se a esses receptores, o óleo CBD atua nos processos fisiológicos, que podem tratar sem causar dependência. “Pode ser utilizado para aliviar dores graves nos cuidados com pacientes oncológicos, evitando assim o uso de concentrações perigosas de opióides, estas sim com potencial risco de causar dependência”, explica Carolina. Além do óleo, o consumo pode ser feito em cápsulas, sprays e cremes.
Entre os quadros mais graves de êxito na vida das pessoas que sofrem com doenças sérias, está o relaxamento de pacientes que se enquadram dentro do Transtorno de Espectro Autista, além de auxiliar a minimizar crises de epilepsia proporcionando maior qualidade de vida a esses pacientes.
SUS
Desde o ano passado, uma lei sancionada em São Paulo instituiu o fornecimento gratuito de medicamentos à base de cannabis pelo SUS (Sistema Único de Saúde). Antes dessa decisão, pelo menos em teoria, os remédios só podiam ser fornecidos por meio de decisão judicial.
A assessoria de imprensa do Palácio dos Bandeirantes disse que a lei minimiza os impactos financeiros da judicialização e, sobretudo, garante a segurança dos pacientes. “Considerando protocolos terapêuticos eficazes e aprovados pelas autoridades de Saúde”.
Regulamentação e apenas poder realizar o tratamento. Esse é o desejo das famílias que possuem algum ente querido que melhorou sua vida com o óleo CBD. “Faz nove anos que eu nunca mais precisei levar minha filha para o pronto socorro por causa de convulsão”, conta Cidinha Carvalho, que trata a filha, que sofre com a Síndrome de Dravet com o óleo.
Encontro Canábico
“Somos Consciência da Planta”. No dia 16 de março, o Ibracan realizou seu 1º Encontro com pacientes de cannabis terapêutica, em Itanhaém, no Litoral Sul. O objetivo foi fomentar o debate e abrir caminhos para o uso da cannabis medicinal no país, com a participação de diversos especialistas na área. “Organizar uma ação como essa é chamar a atenção para a seriedade dos estudos que envolvem a Cannabis Sativa e o seu poder curativo, acreditando que democratizar o conhecimento viabiliza o tratamento para todos que precisam”, disse Marcelo Ricardo Rodrigues, presidente e fundador do Ibracan.
A intenção agora é fazer um encontro semelhante no Litoral Norte, mas ainda sem data definida.