Marcello Veríssimo
Vem de Campinas, no interior de São Paulo, uma das iniciativas em políticas de saúde pública mais bem sucedidas no tratamento da população que vive em situação de rua e vulnerabilidade social. O Consultório na Rua, criado em 2010, é um serviço itinerante da secretaria de Saúde do município, que realiza uma média de 800 atendimentos mensais na cidade, que é a nona metrópole com mais moradores nesta situação. Durante seu período de atuação foram realizados quase 7 mil atendimentos.
De acordo com o Observatório Nacional dos Direitos Humanos, até julho do ano passado Campinas tinha 2.324 pessoas morando na rua. A primeira cidade é São Paulo com quase 55 mil moradores de rua.
Em Campinas, segundo a psiquiatra Sara Sgobin, a equipe é multidisciplinar e se concentra atualmente na região central, que é onde se concentram os maiores aglomerados desta população. Ela explica que as equipes se dividem em duas vans, que saem todos os dias da semana, de segunda a sexta-feira, para identificar e acolher essa população sendo facilitadora para o acesso destes moradores aos serviços primários de saúde, como aferição de pressão, diabetes e lesões de pele. “Há também os pontos fixos que é quando a van para em determinada região e atende os moradores”, disse ela.
Os consultórios na rua foram foram instituídos em 2011 no país por meio da Política Nacional de Atenção Básica, do Ministério da Saúde. O objetivo é justamente ampliar o acesso desta população aos serviços básicos de saúde. As equipes desenvolvem ações integrais de saúde para atender as necessidades dessa população.
Em Campinas, a psiquiatra Sara explica que uma destas vertentes é o convênio com a entidade filantrópica Dr. Cândido Ferreira, que opera dentro do espectro da saúde mental, além de serviços essenciais como banho e alimentação, entre outros encaminhamentos, sendo um alento aqueles que moram na nas ruas ou fazem dela o seu sustento.
A prefeitura informou que as equipes do Consultório na Rua são formadas por médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem, psicólogos, assistentes sociais e terapeutas ocupacionais.
De acordo com o Observatório Nacional dos Direitos Humanos, no ano passado, o país contabilizava mais de 221 mil pessoas vivendo em situação de rua. A maioria 88% é de homens adultos com idades entre 30 e 49 anos. Além disso, deste total, 68% são pessoas negras, sendo 50% identificadas como pardas e 18% pretas.
Além de Campinas e São Paulo, as outras capitais brasileiras com mais moradores de rua são Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Salvador, Brasília, Florianópolis, Curitiba e Porto Alegre.
Para Sonia Maria, a comerciante de São Sebastião, que convive com moradores de rua na porta de sua loja, que fica em frente ao Creas Pop, na rua prefeito João Cupertino dos Santos, no centro, a iniciativa de Campinas também poderia dar certo e ser realizada em São Sebastião. “Tudo depende da vontade política em olhar para essa população com mais carinho, afeto e responsabilidade”.