Uso de apps de pegação não tem fórmula mágica, diz sexolga

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Marcello Veríssimo

A vida é um aplicativo e o uso dos chamados apps de relacionamento está em uma curva descendente durante a última década.

Desde o advento dos smartphones e da internet, o uso de apps também se tornou popular em diversas áreas. Mas parece que, por uma questão de expectativas pessoais, os apps de relacionamento e pegação não têm sido tão úteis.

Pelo menos é o que diz uma reportagem da BBC turca que mostra uma série de relatos de decepções amorosas e frustrações que as pessoas enfrentam no cotidiano
seja na vida real ou nas redes sociais.

E não faltam decepções ao redor do mundo. De acordo com uma pesquisa realizada pelo Pew Research Center, quase metade dos americanos com mais de 18 anos sente que ir a dates se tornou mais difícil na última década. Os resultados da pesquisa sugerem que a maior parte das pessoas está insatisfeita com suas vidas amorosas e apresenta dificuldades em encontrar parceiros.

A advogada de São Sebastião, Verônica Fortunato, concorda com os motivos citados pelos especialistas que incluem o abuso crescente destas tecnologias, além dos riscos físicos e emocionais, da impessoalidade e das expectativas em torno dos papéis sociais, morais e de gênero. “Cheguei em um mundo completamente novo, referente a relacionamentos, no pós divórcio, nunca havia me inserido neste universo de aplicativos,

Atualmente, penso que algumas pessoas geram expectativas com raríssimas exceções”, disse Verônica. “Acho totalmente fora de contexto, as pessoas não são reais, são estereotipadas, elas criam uma imagem distorcida da própria realidade delas”.

Os aplicativos de relacionamento, por definição, surgiram para tentar facilitar que as pessoas se encontrem em qualquer lugar, mas com o tempo parecem ter perdido o charme inicial. Para se ter uma ideia, a reportagem da BBC mostra que os
downloads anuais do Tinder caíram mais de um terço nos últimos 10 anos. “Essa geração tem inúmeras pessoas ansiosas, que criam expectativa no outro sem se conhecer”, avalia a advogada, que diz não colecionar contatinhos, priorizar sua saúde mental e sua segurança. “São cuidados básicos, mas quando for a um encontro, compartilhe sua localização em tempo real com uma amiga”, alerta a advogada.

O Bumble, um dos apps mais populares do mundo, afirmou à reportagem que o comportamento dos usuários tem mudado. “Um em cada três usuários do Bumble nos Estados Unidos diz estar ‘namorando lentamente’ e indo em menos dates para priorizar sua saúde mental quando se trata de namoro”.

Cansaço

Para os especialistas, é uma espécie de cansaço emocional com aplicativos de namoro.

De acordo com pesquisa da agência Savanta, mais de 90% da Geração Z, pessoas nascidas entre 1997 e 2012, estão frustradas com aplicativos de namoro. “Na realidade o outro não tem que suprir nada em você, vem para acrescentar”, considera Verônica.

Para a facilitadora de constelação familiar e professora de Yoga, Brisa Aygadoux, observar o declínio dos apps de relacionamento revela uma necessidade afetiva das pessoas. “Os apps muitas vezes causam fadiga emocional, desmotivação e frieza por priorizar a superficialidade e repetitividade nas interações, em vez de promover conexões profundas e autênticas”.

Gays

Para Giobert Gonçalves, de São Sebastião, o uso dos apps na comunidade gay também está em declínio, mas ele acredita que as pessoas estão se tornando menos interessantes por conta da idealização e expectativas que não são do outro, mas na realidade de cada um. “O outro não tem obrigação ou dever de corresponder a nada. E nós, homens gays, muitas vezes somos levados pelo instinto, carência, que nem sempre garantem bons dates”, ele avalia.

De acordo com levantamento do Bumble, feito em nove países com 20 mil pessoas, 53% dos homens gays solteiros recorrem aos apps contra 40% dos heterossexuais. “Isso mostra que temos mais opções, mas também mais ilusão, então é um assunto bastante delicado”, disse Giobert, que atualmente está desconectado dos apps e se dedicando a outras áreas da vida.

Relacionamento não é mágica

A sexóloga e terapeuta de casais, Josi Mota, acredita que o comportamento das gerações atuais com relação aos apps não tem fórmula mágica. “Em uma perspectiva não tão profunda, temos três gerações: a x, y e a geração z fazendo uso dos apps, talvez a x menos, acreditamos que essas duas gerações mais novas, principalmente, busquem relacionamentos de forma fácil, mas que não vem pelos aplicativos”.

A especialista conta que, graças aos recursos de edição, as fotos estão cada vez mais produzidas e menos reais. “É o que meus pacientes relatam. As mensagens são muito elaboradas, mas o app é só uma ferramenta, as pessoas podem agir da mesma forma na vida real”.

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