Declaração de ator mostra que sexo ainda é tabu; LN não dispõe de tratamentos para compulsão sexual

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Marcello Veríssimo

Em tempos de internet qualquer declaração de gente famosa ou anônima pode ganhar repercussão imediata. Foi o que aconteceu na semana passada quando o ator Samuel de Assis disse no programa dos atores Bruno Gagliasso e Giovanna Ewbank, no YouTube, que é livre sexualmente e se definir como um viciado em sexo.

A declaração de Assis gerou um efeito dominó sendo reproduzida por incontáveis perfis de fofoca e sites noticiosos. Mas o que para o ator é sinônimo de liberdade, para os especialistas é motivo de preocupação.

A compulsão sexual afeta cerca de 3% da população brasileira, principalmente homens. “A compulsão sexual é caracterizada quando a pessoa perde o controle dos seus impulsos em busca do prazer”, explica o psiquiatra Jairo Bouer, conhecido por participar de programas sobre sexo que fizeram história na extinta MTV brasileira nos aos 90.

A linha entre o desejo e a compulsão é tênue. De acordo com Jairo Bouer, a compulsão faz com que o indivíduo tenha dificuldades em tomar o controle sobre seus próprios desejos. “E embarque em situações de risco em busca deste prazer. Também não é incomum que isso traga prejuízos aos relacionamentos, além do abuso de álcool, drogas e medicamentos para controlar essa ansiedade”, disse o médico.

O Ambulatório do Impulso Sexual Excessivo e de Prevenção aos Desfechos Negativos Associados ao Comportamento Sexual, do Instituto de Psiquiatria da USP (Universidade de São Paulo) informou que a compulsão sexual pode ser desencadeada por diversos motivos, entre eles o abuso a que essas pessoas sofreram. “60% dos indivíduos sofreram abuso sexual na infância. Essas pessoas com comportamento sexual compulsivo apresentam elevada prevalência de ansiedade, depressão e risco de suicídio”, informou o ambulatório.

Para a psicóloga clínica e psicanalista Renata Santana, que falou à reportagem do JDL, a hipersexualidade ou o desejo sexual hiperativo pode atingir a todos, independente da orientação sexual ou gênero. “Trata-se de um tipo de vício com sintomas compulsivos, obsessivos e impulsivos, e seu tratamento é similar a outros tipos de dependência”, disse Santana.

Tratamento

Embora seja difícil de perceber, ser diagnosticada e controlada, Renata Santana explica que o tratamento medicamentoso é um suporte para que o paciente possa sair do turbilhão que é causado pelos sintomas. “O acompanhamento psicoterápico é essencial para que sejam trabalhados os padrões traumáticos preexistentes”, orienta a psicóloga.

A rede pública de saúde no Litoral Norte não informou à reportagem se existem na região tratamentos específicos para pacientes que sofrem com esse transtorno. Mas, uma outra forma de conseguir vencer esse vício, vem dos grupos de ajuda como o DASA (Dependentes de Amor e Sexo Anônimos), que trabalha com base nos 12 passos e nas 12 tradições, adaptados de Alcoólicos Anônimos.

Para saber mais acesse o site www.dasa-sp.org

Negação

Um dos comportamentos característicos do vício é a negação. Por conta disso, é que segundo a psicóloga Renata Santana, muitas pessoas que passam por isso não tem coragem de aparecer para falar.

Após dois dias de negociações, a reportagem conseguiu fazer com que a jovem Alessandra, 25, de São Sebastião, concordasse em dar uma entrevista. Ela conta que já participou das reuniões de DASA e disse ter feito sexo em lugares que, para ela, em situações “normais” não passaria perto. “Casa abandonada, construção, em morro. Eu só não transaria dentro de um hospital ou banheiro de rodoviária e posto de gasolina”, ela confessa.

Já o aposentado Euclides, 58, de Caraguatatuba, disse não ser viciado em sexo, apenas gosta do que faz. “Eu saio a noite para andar na praia, tiro a roupa e caminho, mas aqui no bairro também já fiz em uma praça, gosto que os outros vejam”.

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