Henrique Martins
A Câmara Municipal de São Sebastião promoveu nesta quinta-feira (24), o evento “Abril Azul – Diálogo pelo Autismo”, reunindo especialistas, autoridades municipais, familiares, representantes de associações e convidados com vivência na área. A iniciativa teve como objetivo ampliar o diálogo sobre o Transtorno do Espectro Autista (TEA), promovendo a troca de experiências práticas, institucionais e acadêmicas.
Durante o encontro, três especialistas convidados abordaram diferentes perspectivas sobre o autismo, reforçando a importância da escuta ativa, da inclusão e da construção de políticas públicas voltadas às necessidades da população autista.
As autoridades que integraram a mesa foram: Dra. Danúbia Morais, representante da Associação Íntegra de Apoio e Atendimento ao Autista; professor Leonardo Duarte Salomão, pedagogo, filósofo e especialista em autismo; Dra. Débora Trindade Ferreira, mãe atípica, advogada e presidente da Comissão de Defesa dos Direitos da Pessoa com TEA da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) São Sebastião; Margarete Alves Ribeiro, da Secretaria de Educação; Dra. Graziella, diretora da OAB São Sebastião; Mara Abreu, Secretária Adjunta de Saúde; senhora Juliana Coelho, Secretária da Pessoa com Deficiência e do Idoso; os vereadores Henriana Lacerda, enfermeira Maria Ângela, professor Cardin e Edgar Celestino, presidente da Câmara Municipal de São Sebastião.
Após as falas iniciais dos participantes, o pedagogo e filósofo Leonardo Duarte Salomão compartilhou sua experiência pessoal com o diagnóstico tardio de Transtorno do Espectro Autista e como isso afetou sua saúde mental, relacionamentos familiares e sociais. Refletiu sobre como o ambiente escolar poderia ter amenizado as dificuldades enfrentadas em sua infância e adolescência. Ele apresentou dados preocupantes sobre a redução da expectativa de vida entre pessoas autistas e fez um apelo por intervenções precoces e contínuas. Em sua fala, destacou a importância da educação inclusiva, explicou as definições clínicas do TEA e detalhou adaptações pedagógicas possíveis.
Dra. Danúbia Morais, mãe atípica e uma das fundadoras da Associação Íntegra de Apoio e Atendimento ao Autista, destacou a importância de compreender a jornada do paciente, desde o diagnóstico até o tratamento. Ela explicou como o processo de encaminhamento clínico deve ser conduzido de maneira clara e eficiente, ressaltando a necessidade de uma avaliação multidisciplinar o mais cedo possível. Para ela, envolver profissionais de diferentes áreas não só melhora o acompanhamento do paciente, mas também aumenta as chances de sucesso no tratamento.
Ela enfatiza a importância de promover empatia, inclusão e humanidade para as pessoas autistas, destacando especialmente a necessidade de oferecer apoio às mães. Em muitos casos, há abandono paterno e essas mães precisam dedicar todo o seu tempo aos filhos, o que torna essencial um suporte adequado para que possam manter-se mentalmente e fisicamente saudáveis, tanto por si mesmas quanto pelos filhos.
A Dra. Débora Trindade Ferreira, presidente da Comissão de Defesa dos Direitos da Pessoa com TEA da OAB São Sebastião, também mãe de uma criança autista, trouxe seu relato sobre os desafios enfrentados por pessoas autistas e suas famílias. Ela destacou a falta de empatia e humanidade no atendimento, além dos diversos preconceitos ainda presentes na sociedade.
Para Débora, é urgente a criação e, principalmente, a aplicação prática de leis municipais específicas, assim como a capacitação de profissionais para lidarem com pessoas neurodivergentes. Essas medidas, segundo ela, são fundamentais para garantir um atendimento mais eficaz, humanizado e respeitoso.
A advogada também alertou para a escassez de profissionais capacitados e a falta de preparo de muitos ambientes para acolher pessoas autistas. Reforçou a necessidade de investir na qualificação de equipes e na adaptação de espaços, não apenas para o cuidado clínico, mas para a inclusão em todas as esferas sociais. Afirmando que com as adaptações adequadas, muitas pessoas autistas podem integrar o mercado de trabalho e participar ativamente de diversas atividades.
Seu depoimento evidenciou que além das políticas públicas, é essencial promover uma cultura de empatia, respeito e acolhimento para garantir dignidade e oportunidades reais às pessoas neurodivergentes.
Representantes das secretarias de Educação, Saúde, da OAB São Sebastião e vereadores, reafirmaram seu compromisso com a causa autista, destacando a importância de ações articuladas para garantir inclusão e atendimento adequado.
O “Azul – Diálogo pelo Autismo” apresentou caminhos concretos para a inclusão e melhoria em sua qualidade de vida de pessoas com autismo. Os relatos pessoais e informações especializadas contribuíram para o melhor entendimento das demandas e desafios das pessoas neurodivergentes e suas famílias.