Henrique Martins

A Zona Azul é um sistema de estacionamento rotativo pago, destinado a melhorar a rotatividade e disponibilidade de vagas em áreas de grande circulação e comércio nas cidades. Em São Sebastião, a questão ganhou relevância devido à crescente falta de vagas e aos impactos negativos no comércio local.

Para Fernando Aguiar, presidente da Associação Comercial de São Sebastião, a implementação do estacionamento rotativo é um “mal necessário”, mas alerta que não pode ser feita isoladamente. “Não é só pintar as faixas de azul e começar a taxar o motorista para que ele tenha um lugar para parar. Precisamos implantar bolsões, otimizar o transporte público e fazer campanhas de conscientização”, afirmou em entrevista à Rádio Morada FM.

Procurado pelo Jornal do Litoral, Fernando explica que a escassez de vagas afeta diretamente o desempenho comercial, prejudicando a economia local. “Hoje perdemos competitividade para o shopping de Caraguatatuba, principalmente após a liberação da alça do Contorno, que facilita o acesso direto ao centro daquela cidade. Ficou muito fácil sair de São Sebastião para consumir em outros centros comerciais. Precisamos agir para manter os consumidores aqui”, destacou.

Ele enfatiza que a rotatividade proporcionada pela Zona Azul aumenta a disponibilidade de vagas e impulsiona o comércio local, beneficiando lojas, restaurantes e serviços. “Um comércio fortalecido impulsiona toda a economia local. Cidades prósperas têm comércio ativo, e isso passa por garantir estrutura e acesso adequados para quem consome”, complementa.

Há uma lei municipal autorizando a Zona Azul, mas informações sobre a implantação ainda não foram divulgados pela Prefeitura. Fernando ressalta a importância de medidas estruturais adicionais: “É fundamental que a implantação venha acompanhada de bolsões de estacionamento gratuitos e melhorias reais no transporte público. Uma cidade inteligente pensa além da arrecadação: busca mobilidade eficiente, inclusão e acessibilidade para todos.”

O Jornal do Litoral conversou também com o comerciante Regilson Costa, proprietário do Restaurante Canoa, localizado na Rua da Praia. Ele relatou que muitos veículos estacionam logo pela manhã e permanecem o dia inteiro ocupando as mesmas vagas, situação que, segundo ele, prejudica diretamente os comerciantes da região e já resultou na perda de clientes.

“Muitos clientes passam aqui, não acham vaga e vão embora”, afirmou Regilson. Para ele, a implantação da Zona Azul poderia trazer mais equilíbrio na ocupação das vagas e melhorar o fluxo de pessoas no comércio local, mas precisa ser bem estruturada e planejada para não prejudicar trabalhadores e lojistas do centro.

O comerciante também destacou que são necessárias mais vagas, principalmente nas proximidades da travessia para Ilhabela. Segundo ele, muitos motoristas deixam o carro estacionado pela manhã e seguem a pé para a ilha, a fim de evitar o pagamento da travessia, ocupando os espaços durante todo o dia.

Entre as sugestões para melhorar a mobilidade urbana, Fernando Aguiar propõe incentivar moradores próximos ao centro a reduzirem o uso do carro. “Precisamos promover o uso racional do carro, especialmente por quem mora perto, como na Vila Amélia, Porto Grande e Pontal. Soluções inteligentes já existem em várias cidades: patinetes e bicicletas compartilhadas, transporte coletivo mais eficiente e seguro, e o estímulo à carona, comum em países desenvolvidos”, sugere.

Segundo Fernando, São Sebastião precisa avançar com seriedade no debate sobre mobilidade urbana. “Mobilidade inteligente é parte fundamental de uma cidade moderna, inclusiva e sustentável”, conclui.

A discussão sobre a Zona Azul em São Sebastião evidencia o desafio de conciliar organização do trânsito e fortalecimento do comércio local. Embora considerada necessária para aumentar a rotatividade de vagas, a medida exige planejamento cuidadoso, com bolsões gratuitos, transporte público eficiente e campanhas de conscientização. Mais que arrecadação, o objetivo deve ser garantir mobilidade e acesso de qualidade para todos.

Foto: Prefeitura de Piedade/Divulgação