Após uma temporada de sucesso em São Paulo, o espetáculo Ntanga — dirigido e interpretado por Inaê Moreira, com co-criação de Júlia Lima e Danielli Mendes — segue agora para Ilhabela, onde o mar se faz ainda mais presente: a Kalunga circunda e consagra o encontro, não apenas como paisagem, mas como divindade. As apresentações acontecem nos dias 8 e 9 de novembro, no Espaço Cultural Pés no Chão, com entrada gratuita.
Ntanga evoca o culto à Kalunga, linha d’água e travessia que separa e une mundos, celebrando a força ancestral que habita o oceano e seus mistérios. Na cosmopercepção bantu, Kalunga é passagem e presença — o espaço que acolhe os que partiram e guia os que permanecem. Estar em uma ilha é estar dentro desse ventre: território de travessia e reencantamento.
Em cena, corpo, voz e música se entrelaçam em uma espiral de gestos e sons que evocam o tempo como movimento cíclico — presente, passado e futuro em contínua comunhão. O espetáculo reafirma a vitalidade das cosmologias afro-diaspóricas e propõe uma escuta sensorial da água, do chão e do corpo.
O cenário, assinado pela artista visual Mônica Ventura, ressoa em azuis e formas circulares, enquanto a direção musical de Lucas Carvalho e as performances sonoras de Felinto e Sthe Araújo criam paisagens que vibram como ondas. Ntanga é feitiço, canto e oferenda — um convite à memória viva que o mar carrega e devolve em movimento.
“Em Ilhabela, é como se Ntanga voltasse para casa. Kalunga não é apenas o tema, é a própria matéria da obra — a água que atravessa e reencanta nossos corpos”, afirma Inaê Moreira.
O espetáculo tem apoio do edital PROAC criação de dança.

Sinopse
Segundo Leda Maria Martins, em Kikongo (uma das línguas Bantu do Congo), Ntanga designa atos de escrever e dançar, cuja a raiz deriva-se, ainda, do substantivo ntangu, uma das designações do tempo. Criado a partir de uma pesquisa filosófica em torno da cosmopercepção bakongo (grupo étnico da África central), o espetáculo evoca as espirais que abrigam as memórias negras.
Kalunga (o mar) convoca espirais que envolvem memórias na encruzilhada atlântica e criam o solo fértil desta fábula sobre seres imaginados e segredos ancestrais. No palco, sons, danças e provérbios encarnam e recriam ritmos fundamentais. Um feitiço de contra-ataque a tudo que segue minando memórias insurgentes.
A obra afirma a potência de cosmologias negras, e da filosofia Bantu. No espetáculo, essa filosofia (bantu) se traduz na maneira como dança, palavra e música não são apenas expressões estéticas, mas práticas de evocação.









