Última reportagem de série especial revela obstáculos dos LGBTQIAP+ para manter relacionamentos afetivos saudáveis

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Marcello Veríssimo

Um assunto que já não deveria mais ser tabu e continua no gueto. O amor e relacionamentos saudáveis entre pessoas do mesmo sexo ainda é alvo de julgamentos, preconceito e crueldades por uma boa parcela da sociedade.

Não a toa o Dia dos Namorados e o Mês do Orgulho LGBTQIAP+ estão na mesma época do ano no Brasil, que é o país que mais mata lgbts no mundo. Embora as gerações atuais estejam quebrando paradigmas relacionados a sexualidade, levantamento do Grupo Gay da Bahia mostra que ao menos 256 lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transgêneros foram vítimas de morte violenta em 2022.

Em média, um LGBTI+ é assassinado a cada 34 horas no Brasil. De acordo com o levantamento foram 242 homicídios e 14 suicídios ao longo do
ano passado. Entre as vítimas, 134 (52%) eram gays e 110 (43%) travestis ou transexuais. Mais da metade desses crimes foram cometidos por armas de fogo ou brancas, mas também há casos de asfixia, espancamento, apedrejamento, esquartejamento e atropelamento proposital, ou seja, com intenção.

Para se ter uma ideia, como comparação os Estados Unidos registraram o assassinato de apenas 32 trans no mesmo período. Os Estados Unidos possuem 100 milhões de habitantes a mais que o Brasil.

De acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), 12% da população brasileira adulta atualmente se declara gay, bissexual, assexuada, lésbica ou transgêneros, são aproximadamente 19 milhões de pessoas.

A sexta e última reportagem da série especial do JDL sobre os mistérios do amor e o Dia dos Namorados saiu às ruas para tentar entender os anseios de parte desta população que vive no Litoral Norte. Durante a apuração desta reportagem, infinitas variáveis surgiram para explicar as dificuldades dos relacionamentos, principalmente entre homens gays, darem certo.

Uma dessas variáveis, segundo os especialistas em comportamento, diz que diferentemente dos heterossexuais, que tem a hegemonia do modelo de “relacionamento perfeito”, os homens gays são incapazes de lidar com os sentimentos, pois socialmente o homem tem restrições impostas desde muito cedo para expor o que sente, não se mostrar vulnerável, não chorar.

Além disso, o advento dos aplicativos onde se consegue sexo rápido, baladas, redes sociais, entre outros fatores que potencializam as possibilidades das relações efêmeras deixando quem namora com a impressão de sempre estar perdendo a “festa do ano” por estar com alguém apostando na exclusividade.

Por mais que os LGBTQIAP+ tentem copiar os padrões heteronormativos com festas de casamento com bolos, belos cenários, os noivos de ternos iguais e postem fotos de viagens no Instagram os especialistas dizem que esses ” compromissos das relações heteronormativas necessariamente não existem nas relações gays”, como mistura de patrimônios, comunhão de bens e as chamadas “noções de obrigações morais”, ou o juramento de “na saúde e na doença, na alegria e na tristeza”.

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Coragem

Em Caraguatatuba, a ativista pelos direitos LGBTQIAP+ Thífany Felix, que foi presidente do Fórum LGBT do Litoral Norte Paulista, disse que assumir um relacionamento afetivo é um ato de coragem. “As pessoas conseguem separar as LGBTs da sociedade heteronormativa quando o assunto é sentimento. O atendimento feito na UAMI (Unidade de Atendimento a Moléstias Infectocontagiosas) é um incentivo para combater essa insegurança, aqui tem a parte psicológica, pois existem LBGBts que não sabem ainda nem o que de fato são, se a questão dela é sexual ou de gênero”, diz Thifany. “A Uami oferece esse apoio. A sociedade heteronormativa atribui a questão das infecções sexualmente transmissíveis aos LGBTs como se nós fossemos os portadores de tudo”, ela completa.

Thifany recebeu a reportagem do JDL na tarde desta sexta-feira (9) junto com o coordenador da UAMI, Renato Portes, durante o cadastramento do grupo que vai até a Parada do Orgulho LGBT+ em São Paulo neste domingo (11). “Muitas vezes não dá certo não é nem pelo amor e sim pelo respeito e responsabilidade, muitas vezes é fácil você amar o difícil é ter o respeito e a responsabilidade de amar o outro como ele te ama, se tem respeito, tem amor, os dois andam juntos”, analisa Renato.

A ativista Thifany concorda com o fato de os LGBTs serem considerados mais libertos e não precisarem seguir padrões impostos pela sociedade heteronormativa. “Como vemos muitos héteros casando para fazer tipo com a sociedade e vão numa esquina sair com uma travesti, uma transsexual ou até mesmo com um garoto ou garota de programa”. “Nós lgbts temos mais coragem de assumir um relacionamento e da mesma forma caso não dê certo a gente separa do que as pessoas heteronormativas que seguem um padrãozinho e acabam sofrendo por desconhecer que são lgbts”.

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