Marcello Veríssimo

Uma cena digna de último capitulo daquelas novelas que param o Brasil. Assim foi a sessão da Câmara de São Sebastião, nesta terça-feira (28), que tinha em jogo um mistério aparentemente sem solução: após uma sequência de adiamentos os vereadores votaram pela aprovação das contas dos anos de 2020 e 2021, do prefeito Felipe Augusto (PSDB). Dezenas de moradores lotaram o plenário Zino Militão dos Santos para cobrar um posicionamento dos parlamentares, que fosse favorável ao parecer do Tribunal de Contas do Estado, que reprovou ambas as contas.

Foi uma sessão conturbada, cheia de bate boca entre os moradores e os vereadores. Mas, basicamente, funciona assim: quando o TCE rejeita as contas dos prefeitos, mesmo com a rejeição do órgão técnico, os vereadores podem aprovar e votar contra o parecer em sua maioria qualificada, ou seja, com dois terços do parlamento.

Após muita confusão, foi o que aconteceu na Câmara de São Sebastião. No caso do parlamento local, com 12 vereadores, aparentemente, apenas sete vereadores, que compõem a base aliada de Augusto no Legislativo, eram favoráveis à aprovação, faltando apenas um voto para o desfecho da “novela” ser favorável ao prefeito, que com a aprovação continua elegível.

De acordo com fontes ouvidas pela reportagem do JDL, seria necessário que um dos vereadores que se dizem da “oposição” precisaria “mudar” o voto para a aprovação ser consumada.

“Foi o feito do vereador e presidente da Câmara Marcos Fuly, a impressão que deu é que ele estendeu a agonia sessão em sessão para inflacionar e valorizar o seu próprio voto”, disse uma moradora que acompanhou todas as sessões cobrando definição dos vereadores.

De fato, para os moradores que acompanharam a sessão, a cada voto pelo parecer do TCE, o prédio da Câmara era tomado por gritos de comemoração, e os vereadores que votaram contra eram vaiados e hostilizados. Um dos vereadores “protagonistas” foi Diego Nabuco (PSDB), que bateu boca com os cidadãos presentes e discutiu até com um colega de parlamento dizendo que ele estaria sendo influenciado por um jornalista opositor ao prefeito, que acompanhava a sessão na área reservada à imprensa (veja vídeo abaixo).

Após o resultado, o que se viu nos arredores da Câmara foi um silêncio profundo, cerceado por medo. “É uma vergonha, um absurdo, mas já esperávamos por esse resultado. Quem está aqui pedindo por Justiça é o pobre, são as pessoas que muitas vezes não tem o que comer. E eles [os políticos] compram o voto com facilidades para estas pessoas”, disse a moradora, desolada.

Foram favoráveis às contas os vereadores Teimoso, Renato, André Pierobon, Maurício, Reis e Daniel Soares, além do próprio Marcos Fuly, que deu o voto de minerva para aprovar as contas dos dois anos. Foram favoráveis aos pareceres do TCE os vereadores Wagner Teixeira, Pixoxó, Ercílio e Daniel Simões.

Compromisso com a população

O prefeito Felipe Augusto, em nota enviada à imprensa, destacou sua tranquilidade ao longo de todo o processo, afirmando que sempre confiou na integridade e responsabilidade dos trabalhos realizados pela sua administração.

“Desde 2017, nosso compromisso é transformar São Sebastião em uma cidade nova. Mesmo enfrentando grandes desafios, como a pandemia e desastres naturais, nossa administração se mantém firme com o propósito de fazer a cidade desenvolver cada dia mais,” declarou o prefeito.

O prefeito também agradeceu aos vereadores que votaram a favor, ressaltando que “a maioria pensou no bem-estar dos brasileiros que aqui vivem, sem se envolver em jogos políticos. Votaram pensando em São Sebastião e não nas eleições.”