Marcello Veríssimo

A solidão é um sentimento inerente à vida humana e caso não seja tratado pode acabar trazendo uma série de complicações, que começam na mente. De acordo com os especialistas, uma em cada três pessoas sente-se sozinha na sociedade moderna da hiperconexão e das redes sociais.

Os psicólogos alertam que qualquer pessoa pode sofrer de solidão crônica, um assunto que diverge já que, para algumas pessoas, solidão também pode ser vista como solitude, que segundo sua origem do latim é a “glória em estar sozinho”. Mas fato é que a complexidade da solidão intriga cientistas em todo o mundo. Embora a maioria das pessoas não se sinta solitária, por estar rodeada de gente, o sentimento de solidão, no começo, faz com que a pessoa tente estabelecer relações com outras, mas, com o tempo, a solidão pode acabar em reclusão, porque parece uma alternativa melhor que a dor, a rejeição e a vergonha. “A vida é hostil, a realidade é hostil e por mais que tenha coleguismo no trabalho, na sociedade eu sei que sou eu comigo mesmo. Tenho uma dificuldade para lidar com isso, com a criação de vínculos, de laços afetivos. Escolho ficar sozinho, quando estou em casa me sinto bem”, diz o jovem Renato, morador de Caraguatatuba, que só concordou em falar com a reportagem do JDL sob um nome fictício. “É uma questão muito pessoal, só que ao mesmo tempo também serve de alerta para as pessoas não descuidarem da sua saúde mental”, analisa.

De fato. Assim como Renato, dezenas de milhares de brasileiros de alguma forma sentem-se sozinhos. De acordo com o levantamento Global Perceptions of the Impact of Covid-19, divulgado em fevereiro do ano passado, realizado pela Ipsos em 28 países, 50% dos mil brasileiros que responderam a pesquisa dizem se sentir solitários. É o maior índice entre todas as nações. O levantamento mostra que em segundo lugar estão os turcos com 46%, seguidos pelos indianos com 43%. No mundo, segundo o Global Perceptions, a média é de 33% de pessoas padecendo de algum tipo de solidão crônica.

Quando foi realizado, o estudo mostrou ainda que a sensação de solidão aumentou por causa da pandemia da Covid-19 para 52% dos brasileiros. Nos outros 27 países, que compõem o estudo, a média é de 41%. Em todo o planeta a pesquisa online foi feita com 23.004, entre 17 e 74 anos, de 23 de dezembro de 2020 a 8 de janeiro de 2021.

Defasagem

Embora seja um assunto sério, a reportagem do JDL apurou que no Litoral Norte não existem ações e estatísticas voltadas às questões ligadas ao tema saúde mental, fora das campanhas anuais como o Janeiro Branco e o Maio Amarelo, que tratam da saúde mental e suicídios, respectivamente.

Apesar disso, existem uma série de iniciativas individuais de sociedade civil que acolhem e tratam dessas pessoas, como as salas de auto ajuda, por exemplo, além dos médicos psiquiatras, psicólogos e terapeutas. Pelo serviço público, existem os Caps Ad, que são setores das administrações públicas voltados ao tratamento da dependência química e outras comorbidades que, de alguma forma, estão relacionadas com a solidão. “O vínculo entre a solidão e o vício deve ser algo que as pessoas estejam cientes durante esses tempos de incerteza. Estar sozinho e estar solitário são características diferentes, com efeitos variados em nossa mente, corpo e emoções”, explica Ricardo Moura, gestor da Comunidade Terapêutica Restitui, em Caraguatatuba.

De acordo com Ricardo, a solidão frequentemente inclui estar sozinho e sentir como se houvesse uma perda ou vazio interior que precisa ser preenchido. “É um estado de espírito que faz com que alguém se sinta rejeitado, não amado, excluído, ignorado, invalidado”, diz ele.

E é esse “estado de espírito” a qual Ricardo Moura se refere que, muitas vezes, desperta o chamado gatilho mental, uma necessidade de fuga, de sarar a dor da alma, que leva as pessoas ao abuso de drogas sejam elas ilícitas, ou as lícitas como álcool e os remédios controlados. “O trabalho realizado no Grupo Restitui é muito mais do que uma reinserção social e conscientização sobre a dependência química do indivíduo e sim a convivência entre pares”.

O Grupo Restitui conta com psiquiatra, psicóloga e assistentes sociais. “Elas estimulam a saída da solidão, fazendo a pessoa voltar a ver sentido na vida e encontrar uma nova maneira de viver”.

Para Giobert Gonçalves, mentor de qualidade de vida que atua em São Sebastião, tudo começa na mente, em como a pessoa se sente. “A solidão é um sentimento de vazio que, mesmo estando rodeado de pessoas, o indivíduo sente-se solitário. É preciso buscar ajuda profissional para que a pessoa volte a ter qualidade de vida, volte a se amar e se sentir amparada”.

Basicamente, o trabalho de Giobert consiste desafiar seus clientes a mudar suas crenças. “Crenças são pensamentos, sentimentos e sensações limitantes que a pessoa toma como uma regra e obedece sem questionar. No meu trabalho, ajudo o indivíduo a desafiar essas crenças limitantes para desenvolver novas crenças que o ajudem a sair desse estado”.

By srneto

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